Luana Raquel Wojciechowski
1ª Prenda Mirim do RS 2012/2013
DE COMO FAZER UMA BRUXINHA DE PANO
(E ALGUNS CONSIDERANDOS)
Apparício Silva Rillo
Claro, são
necessárias
- embora não
fundamentais -
as coisas que
chamamos materiais:
- retalhos,
sobras de lã,
paina ou
palha picada para encher o corpo,
um par de
agulhas,
linha branca
e preta.
De três
cores, pelo menos, o retrós:
- para os olhos,
as sombrancelhas e a boca.
Ah, e uma
tesoura!
De
preferência uma tesoura antiga
Dessas de uma
parda pátina na lâmina.
Uma tesoura
que haja cortado umbigos de criança
Entre outros
que fazeres das tesouras antigas.
Eis aí o
necessário,
O material
estritamente necessário
Para fazer-se
- como se deve fazer –
Uma bruxinha
de pano.
Lembrem-se
Que eu falei
antes no fundamental.
Sem a
ciência,
Sem a riqueza
do fundamental
ninguém faz
uma bruxinha de pano que se preze.
É preciso
coração para fazer uma bruxinha de pano.
É preciso que
haja um século de avós,
É preciso que
haja um século de mães,
É preciso que
haja um século
De velhas
empregadas resmungonas,
É preciso que
haja um século
De
sentimentos de maternidade
Para
fazer-se,
Como se deve
fazer,
Uma bruxinha
de pano.
É preciso
mais:
Que haja uma
herança intemporal de rugas e trabalhos
Nas mãos que
fazem uma bruxinha de pano.
Que essas
mãos venham de outras mãos
Hábeis para
fazer o pão,
Mansas para a
ternura e para a reza.
É preciso que frente aos olhos
De quem faz uma bruxinha de pano
Haja uns óculos de lentes
redondas em seus aros de ouro
Por onde se possa ver para
dentro
E não apenas para fora.
É preciso que o corpo de quem
faz uma bruxinha de pano
Resguarde o íntimo calor das
reuniões de família
Ao redor da grande mesa de
jantar
- antigamente.
Claro,
São necessários
mas não fundamentais os materiais.
Ela precisa de alma a bruxinha,
E alma é tudo o que há pouco
alinhavei.
Alma é memória,
Uma inscrição na pedra,
Uns olhos grandes, uns bigodes
no retrato
E o tempo nas feridas da
moldura.
Não, não vos arrisqueis a fazer
uma bruxinha de pano
Se não tiverdes alma para fazer
uma bruxinha de pano.
Melhor fareis se comprardes uma
boneca de material sintético,
Dessas que fazem aos milhares
Nas fábricas multinacionais de
brinquedos de plástico.
Dessas bonecas que choram,
Que riem, que andam e que falam,
Tão aparentemente iguais a nós,
humanos,
Com traços de criança copiados
tão perfeitamente
Que nem parecem bonecas.
Parecem, na verdade,
O que talvez sejamos um dia em
nossos netos:
- criaturas feitas em série,
Filhas de provetas, programadas
Por um computador que terá outro
nome
Que não o nome de Deus.
Ou quem sabe se até nome de
Deus,
Se os homens forem tão loucos em
si
Para chegarem tão longe de si,
Tão distante de Deus!
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